sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Assoalho pélvico: músculos que movem articulações.



Estes dias mergulhei no livro Pelvic Power de Eric Franklin. Aliás, todas as imagens desta postagem são extraídas de seu livro e as fotos são de uma aluna, a Eleonora, e foram feitsa no meu estúdio pelo Fabio Heizenreder.

Ler este autor hoje é tão importante na minha prática profissional quanto ler Blandine Calais.
Aliás, por falar na grande mestra, ela acaba de lançar um livro que saiu pela La Liebre de Marzo chamado Abdominales sin Riesgo (Abdominais Sem Risco).
Não é leitura fácil não...
“Mas por que Silvia?”, me perguntem!
Pelos questionamentos extremamente lógicos a que nos conduz: por um lado estimulantes, nos fazendo ver que vamos indo bem, nos direcionando cada vez mais para o funcional, para as oposições de cintura ( http://pilatespaco.blogspot.com/2009/10/6-polestar-international-conference.html ).
Mas, por outro, noz faz engolir em seco quando expõe com desenhos lindos e explicações coerentes, todos os possíveis efeitos e consequências que abdominais, dependendo da maneira como forem executados, podem exercer sobre assoalho pélvico, parede abdominal, e por aí vai.

Bem, voltando ao Pelvic Power, vamos estudar juntos alguns elementos que por si só, já tornam o encontro com os abdominais de Blandine mais deglutíveis.

A pelve é formada por uma série de articulações.
Fazendo fronteira com a pélvis, os quadris – articulação coxofemoral e a sacro ilíaca – um disco intervertebral (o famoso L5-S1) e duas facetas.
Dentro da pélvis, por assim dizer, encontramos as articulações com a sínfise púbica (SPB) de cada lado e com o sacro de cada lado
A sínfise púbica não é uma articulação verdadeira sendo formada de fibrocartilagem que não permite quase nada de movimento.
As articulações sacroilíacas (ASI) são juntas verdadeiras que possuem características específicas.
O lado do osso sacro é feito de cartilagem hialina típica de articulações flexíveis, enquanto o lado do ilíaco é coberto de fibrocartilagem, comumente encontrado em articulações rígidas. É uma articulação com duas faces: uma muito forte e estável e a outra sutilmente flexível.

Essas quatro articulações permitem que importantes movimentos sejam feitos no interior da pelve. As ASI e SPB são parceiras em uma cadeia fechada, o que significa que toda mudança de posição em uma das articulações promove efeitos nas demais.
A quinta articulação da pelve é a sacro coccígea entre sacro e o cóccix.

O cóccix pode se mover para frente e para trás ao redor desta articulação o que muda a tensão no assoalho pélvico. Existe também algum movimento entre as vértebras do cóccix
Com o avanço da idade o cóccix e a sacro coccígea podem se tornar calcificados. Isso pode ser evitado com o treino do assoalho pélvico.

Pelo foco da evolução, o assoalho pélvico é uma formação recente que acontece com a postura ereta. Para os quadrúpedes o assoalho do corpo é a parede abdominal e a parte frontal do tórax.
Para entendermos o desenvolvimento do assoalho devemos observar o desenvolvimento humano para a vertical.

Humanos e outros primatas iniciam como quadrúpedes cujas pernas se alongam horizontalmente para trás e, então, fazem a rotação de 90º. Desta forma o peso dos órgãos sai da parede abdominal e vai para a pélvis. Para que haja sustentação, a cauda, que antes era alongada e encompridava a coluna teve que encurtar e entrar para fechar o novo assoalho.

Muito bem!
Agora, como podemos nos aproveitar desse histórico de formação da pelve, bem como de suas articulações, na nossa prática de movimento?

Vamos pensar o seguinte: os músculos são feitos para mover nosso corpo, ou ainda mais especificamente, para mover articulações. Segundo Eric Franklin o corpo humano é extremamente econômico: onde não há necessidade de movimento entre ossos, não há músculos, mas tecido conectivo e ligamentos sem fibras contráteis.
Dentro da pelve temos vários músculos (http://pilatespaco.blogspot.com/2008/01/eleve-o-nus.html).
O movimento nas articulações pélvicas são pequenos e sutis. Devido a sua posição central, estes pequenos movimentos podem ter causar grandes efeitos – uma pequena mudança na pélvis pode significar uma grande mudança no pescoço, coluna ou pés.
Desta forma o assoalho pélvico deve ser fortalecido sutilmente e, de preferência, de maneira integrada.
Lembrem-se do que nos lembra Blandine Calais: o períneo é uma região pequena mas envolvida em funções múltiplas e complexas, desta forma não cabe insistir em treinos longos e demasiadamente focado.
Vale a pena desenvolver a consciência da pelve, através do despertar de suas articulações e, em seguida, promover movimentos a partir dela. Vale destacar que a pelve é o local do primeiro chacra (“our root, the earth on wich we stand”, frase de C. J. Young que significa, “nossa raiz, terra aonde nos apoiamos”), nossa fonte primária de energia.

Num próximo post desenvolverei mais elementos para tomada de consciência destas articulações. Hoje, aproveito para compartilhar duas imagens lindas de uma gestante em movimento, associando com os desenhos de expansão e recolhimento do assoalho pélvico.

Fica a sugestão de trabalho, tanto para gestantes quanto para qualquer pessoa.

A partir de uma boa estabilização em quadrupedia, mãos sob os ombros, braços longos, compasso braço tronco ativado, fêmur paralelo aos braços. Deslocar o peso para frente e para trás mantendo uma boa estabilização da coluna neutra. (http://pilatespaco.blogspot.com/2009/04/pratica-estabilizando-em-quadrupedia.html)

Quando vamos para trás, naturalmente ocorre um afastamento entre, ísquios, púbis e cóccix. É como se abríssemos esses pontos desabrochando uma flor e permitindo o alongamento da musculatura do assoalho (transverso superficial, pubococígeo, elevador do ânus, etc.)



No deslocamento para frente, os pontos se aproximam, a musculatura do assoalho ( e o transverso junto) contrai, temos a famosa báscula do coccix (ver também http://pilatespaco.blogspot.com/2009/08/bascula-do-coccix.html) e a coluna... neutra!
Estamos falando de estabilização dinâmica da coluna com descarga de peso em membros superiores e inferiores..
Ah! Mas qual era mesmo o foco do exercício ? Assoalho?
Está aí um claro exemplo de como colocar o trabalho de assoalho dentro do contexto das aulas.
Basta chamar a atenção do aluno para um movimento que já ocorre naturalmente, mas, desde que coloquemos a consciência nele, efetivamos e potencializamos o trabalho.



É isso aí! Experimentem e vamos compartilhar nossas sensações!

Bibliografia consultada: FRANKLIN, Eric, Pelvic Power, Elysian Editions; CALAIS Blandine, AbdoMinales sin Riesgo, La Liebre de Marzo e O Períneo Feminino e o Parto, Editora Manole.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Decúbito lateral: o ambiente estranho mais familiar do Pilates.

Ainda desenvolvendo a temática dos ambientes estranho e familiar, quero convidá-los a pensar no decúbito lateral.
A situação de estar em decúbito lateral, deitado de lado, nos é bastante estranha.
Geralmente não fazemos quase nada em decúbito lateral, pelo menos nada muito ativo. Muitas pessoas dormem em decúbito lateral por ser uma posição bastante confortável e, inclusive, recomendada.

O decúbito lateral apresenta-se como um estímulo muito interessante, em se falando de ambiente estranho, para levar o aluno a um inicio de reorganização postural. Além disso ele aparece várias vezes no repertório de Pilates tornando-se, apesar de estranho, bastante familiar.


Solo:
No decúbito lateral no solo ficamos com a descarga de peso, basicamente, em duas regiões inusitadas: o trocânter maior do fêmur e a borda lateral da escápula. É importante não descarregar o peso sobre o acrômio, mas dar uma suave deslizada do braço para frente provocando uma abdução da escápula. A idéia é imiaginar que estamos nos deitando sobre uma trave de Ginástica Olímpica ou sobre uma theraband, aliás, é uma boa referência no início!

O braço de baixo poderá também estar flexionado ou alongado sob a cabeça. De qualquer forma é necessário dar suporte para que a cabeça fique perfeitamente alinhada com a cervical e restante da coluna de forma que o pescoço esteja neutro e relaxado.
Se optarmos em colocar o braço de baixo para frente é importante que coloquemos tantas almofadas forem necessárias para deixar a cabeça e cervical organizadas.

O braço de cima pode estar a frente tocando no solo, o que regride o exercício por aumentar a base de suporte diminuindo o desafio de equilíbrio ou ao longo do corpo desafiando mais a organização.

Podemos também fazer algumas variações em relação as pernas. Se bem flexionadas, como numa posição table top em decúbito dorsal, com 90º graus de flexão de quadril e joelhos, o elemento equilíbrio fica bem reduzido.
Neste caso teremos em jogo o desafio do alinhamento da coluna no plano frontal. A coluna flexiona em direção ao chão convidada pela gravidade. A pelve faz uma báscula lateral acompanhando o movimento da coluna.

O simples ato de alongar a coluna, mandando a pelve para longe, especialmente a borda superior, criando espaço entre a crista ilíaca e a costela, é um excelente trabalho de organização de tronco e percepção corporal. Balançar a pelve nesse plano frontal trabalha bastante com a musculatura abdominal que se responsabilizará por elevar essa cintura solo, juntamente com um trabalho bacana de quadrado lombar atuando excentricamente na subida e mais várias ações musculares. Ver também http://pilatespaco.blogspot.com/2007/11/para-experimentar-estabilizao-em.html
Além disso, teremos a oportunidade de trazer à consciência a mobilidade das articulações da pelve incentivando a contração e relaxamento da musculatura do assoalho pélvico.

Vejamos, quando eu relaxo e deixo a coluna flexionar, os ísquios se afastam , tendendo a alongar a musculatura pélvica. Quando mando a pelve para longe procurando alinhar as cristas ilíacas de cima e de baixo, abrindo espaço entre a crista e as costelas de cima, eu aproximo os ísquios mandando o de cima em direção ao de baixo. É como se aproximássemos os quatro pontos do fundo da pelve – ísquios, cóccix e púbis. Incentivar essa percepção promove fortalecimento, relaxamento e, principalmente consciência da região.

Sugestão:
Considerando uma postura inicial em decúbito lateral no solo organizada com aquela posição de pernas à 90º, vamos fazer a flexão e extensão das pernas flexionadas.
Eleve um pouco a perna de cima e mande o joelho longe criando espaço desde o topo da cabeça até ele. Cintura de cima aberta, cintura de baixo flutuando. Borda da escápula e trocânter do fêmur pensam em se aproximar.
Inspire suavemente e, enquanto expira vá riscando seu joelho no ar estendendo seu quadril enquanto naturalmente incentiva a aproximação dos ísquios e eleva seu assoalho pélvico. Utilize sua musculatura abdominal para manter a relação entre constelas e bacia, entre esterno e púbis. Sua coluna se mantém longa e o sacro escorrega para baixo enquanto o fêmur se desloca para trás. Trabalharemos em oposição à tendência da coluna da coluna de entrar em hiperlordose.

Enquanto inspira, relaxe seus flexores do quadril enquanto a o fêmur volta para a posição inicial. Pense em seu fêmur cavando dentro da bacia e no assoalho pélvico cedendo enquanto você relaxa essa musculatura. Pense em mandar os ísquios, especialmente o de cima, para longe. A tendência nesse momento é que a coluna entre em flexão, então é importante deixar os eretores espinhais ativos para manter a coluna neutra, a lordose lombar preservada.

Depois de estudar o movimento, repita algumas vezes de maneira fluida deixando que a organização aconteça de uma forma natural. Imagine que sua perna é um pêndulo, relaxe bem sua articulação do quadril. Quanto mais relaxada, menos esforço será necessário para estabilização.
Outras variações.

Numa situação diferente, podemos utilizar as máquina: gosto especialmente da flexão lateral na cadeira.
Sugiro inicialmente que façamos ao aluno o desafio da posição inicial. A proposta é a mesma com duas grandes variantes: a enorme diminuição da base de apoio, pois não teremos mais a mãe terra para nos apoiar, estaremos flutuando; e o braço da base entrará em ação recebendo a descarga de peso. É preciso acoplar nossa escápula no gradil costal ativando suavemente o compasso braço-tronco. Veja também http://pilatespaco.blogspot.com/2009/12/o-compasso-tronco-braco.html
Atenção ao punho para não flexioná-lo demais, procure colocar sua mão algo mais escorregada para frente do pedal suavizando a flexão, Não queremos nos pendurar em estruturas passivas (ligamentos, articulações) mas nos organizar com as ativas (músculos).
Especial atenção para a cabeça, o ideal é, inicialmente, fazer na frente de um espelho. Existe uma tendência em querer flexionar o pescoço. Relaxe e deixe que ela pese no ar como se estivesse boiando de lado no mar. Eu pessoalmente experimento uma sensação agradável no pescoço nessa posição.
A partir dessa organização bem feita, vários exercícios podem ser realizados: side kicks, abução, lateral flexion entre outros.

É isso aí, experimentem e vamos trocar idéias!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Interdisciplinaridade: realidade do método Pilates hoje!

O que permite nosso movimento? Dobras, juntas, deslizes...
O que o dificulta? Limites articulares, musculares .
O que nos une? Amor, amizade, solidariedade, compreensão...
O que nos afasta? Limites raciais, sociais, profissionais.

Para que servem limites?
São fundamentais para quem se sente inseguro, para quem inicia algo.
É um ponto, uma linha aonde podemos nos apoiar, algo que nos dá direção quando iniciamos e precisamos de um norte.
São especialmente importantes para serem questionados e, então, ampliados.
Mas, a melhor coisa dos limites, é revelar as interseções.
Aqueles lugares fantásticos aonde o seu, o meu e o dele se encontram, se reinventam e desabrocham em novos saberes.
Quanto mais seguros somos em relação ao que acreditamos, e quanto mais essa crença se despoja de limites, maiores as interseções, as possibilidades de encontros e os jardins de novos saberes.

Faço parte de uma equipe multi e interdisciplinar.
Aprendo e ensino a cada dia.
Sabemos nossos limites e trabalhamos para ampliá-los.
Com raras exceções, fisioterapeutas, professores de Educação Física e Dança, atendem a qualquer cliente que busque o Pilates, com a mesma competência e humildade para buscar o apoio que for necessário com os colegas ou em outros locais.

Nosso grupo não é uma exceção: essa é a realidade do método hoje.


Essa fiscalização e limitação imposta pelo CREF2, invade o direito dos profissionais numa atitude extremamente autoritária que vai em sentido contrário à realidade da aplicação do método hoje.
É limitadora e retrógrada.

Que pena.

(Clique sobre a imagem para ampliá-la)
Minha foto
Sampa, SP, Brazil
Mulher, mãe, professora de Ed. Física, instrutora de Pilates, uma apaixonada pelo movimento: o meu, o seu, o de todos nós, o de todas as coisas..